domingo, 30 de junho de 2013

A ciência dos cabos - parte 2: Facas de Luta

Inicialmente gostaria de esclarecer que escrever um artigo como este, recheado de informações técnicas relevantes e até mesmo bom humor, exige muitas horas de dedicação. 

Este tempo, que não estou trabalhando no quartel ou na oficina, deveria ser dedicados ao meu convívio familiar, mas eu o sacrifico com a finalidade de produzir bons conhecimentos e divulgar meu trabalho.

Assim, gostaria de gentil e encarecidamente solicitar a todas as pessoas que, ao término da leitura de algum dos artigos do meu blog, se sentirem recompensadas por uma leitura enriquecedora e que produziu soma de conhecimento, que me recompensem o esforço, ajudando a divulgar o meu trabalho a seus conhecidos e compartilhando em suas redes sociais. Leva alguns poucos segundos!

                                                                                                                            Atenciosamente,

                                                                                                     Eduardo Berardo
                                                                                                                Autor


Neste artigo daremos continuidade aos detalhes construtivos de um bom cabo de faca, discursando desta vez acerca das facas de luta.

Como defini anteriormente, em "A Ciência dos Cabos - parte 1: Facas de Campo", por convicção própria, elenco a existência de 4 principais famílias de facas, destas quais derivam todos os outros inúmeros tipos, sendo:

1. Facas de campo;

2. Facas de luta;

3. Facas de caça;

4. Facas de cozinha.

Didaticamente, para que se compreenda todos os aspectos apontados neste artigo, vale reler rapidamente os anunciados abaixo, referenciados na parte 1.

Relembrando...

O que um bom cabo deve proporcionar:

1. Segurança

Este item foi elencado antes dos demais por ser, sem dúvida, o mais importante de todos. É senso comum que um cabo mal construído, pode fazer com que o usuário de uma faca se fira gravemente. Se isso acontecer em um acampamento, a dezenas ou centenas de quilômetros do atendimento médico mais próximo, pode significar a morte.

Eu mesmo presenciei um caso grave, em 1993 quando participava de um treinamento militar em área rural, na serra do mar no litoral paulista. Um de meus colegas, à época Cadete, hoje Capitão, fazendo a função de "homem facão", o responsável de uma patrulha por abrir uma picada conforme o azimute (direção objetivada, apontada pela bússola) dado pelo "homem bússola", depois de extenuantes horas usando o facão, deixou-o escapar da mão, batendo-o contra o próprio joelho. Isso produziu um corte muito extenso e fundo, tendo que ser removido às pressas em maca improvisada, por vários quilômetros de selva até o suporte médico. Graças à Deus ele sobreviveu, mesmo tendo perdido bastante sangue, não lhe restando nenhuma sequela.

Vamos raciocinar juntos.....

Será que se o cabo do facão tivesse reentrâncias , protuberâncias e curvas nos lugares certos, de modo a encaixar melhor os dedos e a palma da mão de meu "Irmão de Armas", proporcionando uma ergonomia que oferecesse melhor estabilidade, isso teria acontecido? 
E mais além....se o cabo fosse equipado com passador de fiel, aquela cordinha que atravessa o cabo e prende o facão ao pulso do usuário para evitar escapes indesejados ele teria se cortado? Muito provavelmente não!!!

2. Conforto: 

Parece um item óbvio, mas que acaba negligenciado em alguns projetos executados para facas de uso prático. 

Alguns pontos...

Imagine uma faca que será utilizada por diversas horas ininterruptamente, que tenha qualquer tipo de quina viva no cabo......inevitavelmente produzirá bolhas e desconforto demasiado.

Imagine também um cabo curto, para uma faca pesada. Você fará o dobro da pressão manual para manter o controle da faca. Resultado: fadiga e desconforto. Isso é definido pela Ergometria, ou seja, a ciência que define as medidas mais adequadas das ferramentas às medidas e funcionalidades de nossos corpos.

Passando para a indústria automotiva....alguém já parou pra perguntar porque todos as empunhaduras de câmbio de nossos automóveis são curvas? O que....você nem havia reparado nisso? Pois é, todos as empunhaduras de câmbios de transmissão mecânica são curvas! Mas porque? Simples: porque nossas mãos não se fecham retas, elas são curvas. Isso é Ergonomia, a ciência que adéqua o formato construtivo dos objetos ao formato e funcionamento de nossos corpos. 

3. Funcionalidade: 

A funcionalidade aqui analisada, confunde-se com a performance. Para cada destinação prática de cada faca, existe um projeto construtivo que faz com que esta trabalhe melhor, que tenha mais performance como ferramenta. 

Para me fazer entender, vou usar um exemplo esdrúxulo, mas eficiente para transmitir a ideia:

Um taco de baseball  é uma ferramenta empunhada pelas duas mãos e que é utilizada girando em torno do corpo, tendo este como centro do giro. 

Uma foice também se enquadra exatamente na mesma definição acima descrita.

Entretanto, uma ferramenta se destina a rebater bolas arremessadas e a outra para cortar vegetação. Imagine se adaptássemos um cabo de foice em um taco de baseball. O rebatedor não teria precisão nem tampouco velocidade para fazer o seu trabalho.
Se invertêssemos, colocando um cabo de taco de baseball em uma foice, o homem do campo não conseguiria frear o giro da foice após cortar uma touceira de capim para seu cavalo.

Ou seja, para cada aplicação prática de qualquer ferramenta, exige-se uma linha de raciocínio específica que estabeleça qual forma construtiva proporcionará melhor funcionalidade e performance. Para facas e ferramentas cortantes essa regra é a mesma. 


Facas de Luta


Quando analisamos uma faca qualquer, seja numa discussão técnica informal, seja num julgamento de concurso de melhor faca, é absolutamente imprescindível, antes de mais nada que façamos a seguintes perguntas:

Para que serve esta faca? O que ela deve conseguir fazer?

Pois bem, vamos mergulhar no tema deste artigo...

Para que serve uma faca de luta? O que ela deve cortar?

Vamos lá... não se assustem!!!

Uma faca de luta, serve unica e exclusivamente para matar gente! É... matar gente! Ou vocês pensaram que "luta" definisse algum tipo de embate emocional ou psicológico? Não! Uma boa fighter é uma faca projetada, do início ao fim, para ser o mais MORTAL possível!

E o que ela deve cortar??? 

Somente duas coisas: As vestimentas e, é claro, o recheio destas,... o infeliz sujeito que estiver do lado dentro das roupas!  

Ohhhhhhhhhhhhhhhhh!!!

Mas agora a cutelaria custom brasileira está fazendo apologia a violência?

Não!!! E vamos parando logo com essa hipocrisia!

A história da humanidade registra cerca de 14.500 guerras diferentes, sendo que quase 100% destes conflitos foram resolvidos no fio da espada, cortando e perfurando gente!

Como bem descreveu em seu site, o Mastermith brasileiro Rodrigo Sfreddo, à respeito da cutelaria: "Sua importância é reconhecida por imperadores, exércitos..."

Ou seja, já vou avisando pra que não se levante nenhum radical hipócrita tipo "bicho grilo paz e amor" pra me criticar dizendo que estou estimulando a violência!!!

Eu fico p... com hipocrisia!!!

A história da humanidade foi definida à base...

... da porrada;

... da espadada,

... da machadada,

... da marretada;

... da flechada!

O sistema era muito bruto!

O couro comia pra valer!

Ou vocês acham que as tretas se resolviam tomando umas?

E que os Vikings são só um time de futebol americano?

Abram os olhos para a realidade!

Pois a coisa é muito mais feia do que parece!!!

Desta forma, faca de luta é faca pra matar gente e o que fugir dessa finalidade é devaneio técnico de cuteleiro ou filosofia barata de boteco!

Isso não significa que fazemos facas pra tirar a vida dos outros! Nossas peças são para fins de coleção, mas nem por isso podem ser construídas de qualquer forma, sem critério!

Para desenvolvermos uma linha de raciocínio sobre o cabo, necessitamos antes analisar alguns aspectos essenciais de uma faca de luta:

Peso: qualquer que seja o tipo, das mais variadas formas de facas de luta, todas elas, sem exceção, devem ser leves, o mais leve possível. Esse baixo peso conferirá velocidade à lâmina, seja em ação de ataque, de recuperação após um ataque infrutífero, ou mesmo de defesa.

Geometria de fio: como falamos anteriormente, uma fighter irá cortar tão somente roupas e carne. Desta forma, não é necessário, nem tampouco conveniente que ela tenha uma geometria de fio robusta, comum as facas que cortarão coisas mais duras, como madeira. Ao contrário, devemos pensar na faca de luta como uma grande navalha, com o fio mais fino e agressivo possível. 

Ponta: só existem duas formas eficientes de mandar o oponente "dessa pra uma outra" numa luta de facas, cortando ou perfurando. Assim, além do fio já explanado, necessitamos de uma ponta aguda e agressiva, que tenha alta capacidade de penetração no ato de perfurar.


O aspecto bastante agressivo de uma lâmina de fighter.

Dimensão: existem vários tamanhos de facas de luta, e em conversas com pessoas especializadas em lutas com facas, ficou claro que excesso de tamanho atrapalha muito. Pode-se ter uma faca de luta com lâmina grande, de cerca de 10 polegadas de comprimento, ou até mais, como é comum na escola Norte-Americana de cutelaria custom, entretanto leveza e agilidade devem acompanhar o projeto para que ela não se torne qualquer outro tipo de faca, menos uma fighter. Em minha opinião, as melhores não devem exceder 8 polegadas (20 centímetros) de lâmina.


Uma fusão de conceitos: 
Lâmina de design persa numa bowie típica da América do Norte. 
Uma bela fighter mestiça!

Em suma estes aspectos nos fornecem informações suficientes para projetarmos um bom cabo. 

O que um bom cabo de faca de luta deve proporcionar? Vamos lá:

Segurança: não é difícil entender que, numa luta de facas, se um dos lutadores deixar sua faca cair, ele não mais terá que se preocupar com as contas que vencerão no começo do mês. 

Essa segurança deve prever inclusive choques contra a faca, desde as partes previsíveis como pano e carne, como a de outra lâmina ou qualquer objeto utilizado pelo oponente para defender-se. Mesmo com estes, a empunhadura deve manter-se firme!

Diferentemente de uma faca de caça, que deve proporcionar empunhadura confortável em mais de uma dezena de empunhaduras diferentes, normalmente se empunha facas de luta de apenas duas formas: 


Com a lâmina no prolongamento do punho, e 

Com a ponta virada em direção ao cotovelo, 
com o dorso da lâmina virado para o antebraço. 

Assim, um bom cabo de faca de luta deve "envolver" a mão do usuário, nestas duas empunhaduras diferentes, de forma que praticamente não exista a possibilidade de ela escapar da mão. Isso exige um design sinuoso, cheio de curvas. 


Um dos designs que mais me agrada para cabos de fighters,
bem sinuoso e cheio de reentrâncias para bem firmar
os dedos do usuário.


É premente ressaltar que existem uma infinidade de designs diferentes para cabos de fighters. Neste artigo vou abordar os aspectos essenciais do modelo que mais me agrada. Isso não significa que outros designs não tenham virtudes!



Conforto: Trata-se de uma questão tão óbvia que vou me dar ao direito de não discorrer.

Percepção sinestésica: aprendi esse conceito quando cursei Educação Física na Universidade Estadual de Londrina. 

Isso nada mais é do que ter percepção acurada do posicionamento do corpo no espaço. 

Uma boa faca de luta deve dar certeza ao seu usuário de que com aquela empunhadura, a ponta da faca esteja exatamente na posição em que ele imagine, espacialmente falando e sem que necessite olhar para a faca para saber exatamente onde ela está posicionada, o ângulo de inclinação da lâmina em relação ao antebraço e punho, etc.

Para isso, inserimos "marcações" em forma de saliências bem definidas, que em contato com a mão, darão certeza deste posicionamento.

O "vinco" que fica bem posicionado na palma da mão,
entre os dedos indicador e médio.
Observem também as concavidade destinadas a acomodar seguramente os dedos, 
impedindo a perda da empunhadura. 

Mas Berardo, esse vinco não vai fazer bolhas nas mãos?

Não Pequeno Gafanhoto, a menos que você use sua fighter pra cortar uma sequóia!

Diferentemente das facas de campo, que são projetadas para uso prolongado e não podem fazer bolhas e ferimentos nas mãos, as fighter são projetadas para uso rápido, momentâneo.

Ou alguém já soube de uma luta de facas de 1 hora de duração? É tudo ou nada! Assim, para o uso a que se propõe, não dará tempo de fazer bolhas!!!


O vinco bem visível, partindo do meio dos dedos indicador e médio.


Dentre os designs de cabos das 4 famílias principais de facas, sem dúvida alguma, o menos versátil e mais especializado de todos é o das facas de luta.

Pode-se descascar uma laranja com uma camp knife ou cozinhar com uma hunter, mas tecnicamente falando, a fighter deve ser projetada exclusivamente pra dar lucro às funerárias! Ela não precisa conseguir fazer mais nada!


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terça-feira, 25 de junho de 2013

El Draco II - Nova versão.

A El Draco, faca chopper que apresentei na II Mostra Internacional de Cutelaria e que recebeu o Prêmio de Melhor Faca de Campo, fez muito sucesso e realmente foi uma faca que pessoalmente me agradou muito.

Fruto desse sucesso, foi o agendamento de algumas encomendas do mesmo modelo.

Agora apresento a vocês a primeira destas encomendas, a El Draco II, uma nova versão, com algumas mudanças no design original.

A primeira mudança foi uma ligeira inclinação no ângulo do cabo, com relação ao posicionamento da lâmina, talvez imperceptível na foto por ser bem sutil. Além de promover um ganho de potência no uso da faca, também harmonizou melhor com as curvas do conjunto.

Outra mudança, ainda no cabo, foi a acentuação de todas as curvas do design. Isso resultou numa empunhadura mais segura e confortável.

As demais alterações se deram na lâmina. Aumentei a concavidade da parte recurva da lâmina, prolonguei o tamanho do falso-fio de 50% para 60% com relação à medida total da lâmina e o finalizei acima da linha do dorso, produzindo uma crista esteticamente bem bacana.

Estas pequenas modificações tornaram a El Draco II uma faca mais curvilínea, sensual e agressiva, com forte apelo visual.

El Draco II - Buscando aperfeiçoamento à cada peça.

A primeira El Draco.

A crista protuberante do final do falso-fio e as curvas sexy da nova lâmina.

O sinuoso, confortável e seguro pistol grip,
 construído em um belo par de talas de chifre de carneiro merino. 

Vista superior. Notem a espessura (1/4 de polegada = 6,35 milímetros)
 do dorso da potente lâmina.

A perfeita junção das talas de merino.

Vista lateral esquerda do cabo.

Uma belíssima faca!


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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Bowie Fighter

Olá Pessoal. Esta é minha mais recente faca, feita sob encomenda para um Cliente. Trata-se de uma Bowie Fighter, leve e rápida, bastante portável e em boa medida tanto para a defesa, quanto para o uso cotidiano. 

Os dados técnicos dela são:

Lâmina: medindo 8 polegadas de comprimento, em aço damasco padrão Ondas de Fogo, design clip point e com falso-fio.

Guarda: dupla, em aço damasco.

Cabo: em talas de osso de girafa estabilizado, afixadas com dois pinos mosaicos.

Bainha: em couro de búfalo, revestida de couro nobre de avestruz, com passador convencional no verso para portabilidade comum ou com botão em aço inox afixado no rosto para uma portabilidade mais esportiva.

Espero que apreciem! Seus comentários são sempre muito bem-vindos e apreciados por mim!

Forte abraço a todos!


Visão lateral direita.

Um close-up do damasco padrão Ondas de Fogo.
Excelente definição entre camadas e perfeito contraste.

O belo craquelado do osso de girafa.

A perfeita junção entre as talas de osso de girafa, tornando a emenda quase invisível, 
conseguida por meio de uma técnica que levei vários anos para desenvolver e aperfeiçoar.
Serapião, lembrei de você depois que vi o resultado desta junção Brother!

Vista superior.

Lateral direita do cabo.

Vista superior da junção das talas de osso de girafa.

Faca embainhada.

Vista lateral esquerda.


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sábado, 8 de junho de 2013

Faca Disponível - VENDIDA!!!

Olá Pessoal, esta é minha mais recente faca, a qual estou disponibilizando para a venda.

Trata-se de uma faca para uso pessoal, classificada pela escola de cutelaria custom mundial como uma EDC (every day carry - para carregar todos os dias), bem como faca de caça.

Seus dados técnicos são:

Lâmina: medindo 4,5 polegadas de comprimento, em aço damasco padrão mosaico, em design swedge point, com falso fio e geometria de fio extremamente aguda, fazendo dela uma faca muito cortante.

Guarda: em aço damasco.

Cabo: em California Buckeye Burl estabilizada (madeira originária da América do Norte) cuja coloração exótica é natural, não tendo sido submetida a nenhum processo de tingimento. O cabo foi afixado com 2 pinos mosaicos e na porção próxima ao pomo, foi colocado um passador de fiel em aço inoxidável.

Bainha: em couro de búfalo, costurada e tingida à mão, adornada com desenhos em baixo relevo e com as bordas abauladas e brunidas.

Um excelente final de semana a todos!











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